sexta-feira, 3 de maio de 2013

CHIMBORAZO

A idéia de escalar o Chimborazo surgiu quando soube de uma entrevista que o montanhista (e amigo que conheci no Aconcagua) Carlos Canelas concedeu logo após voltar do cume do Everest. Quando perguntado se aquela havia sido a montanha mais difícil que ele já escalara, para surpresa da repórter, ele respondeu que:"não, a mais difícil que subi foi o Chimborazo no Equador!"
Ou seja, o cara que chegou no pico mais alto do planeta diz que no Equador existe uma montanha que, para ele, foi mais difícil do que o próprio Everest!! Na hora pensei: "preciso me testar alí!"

Chimborazo, a maior montanha do Equador (6.300mts). No idioma indigena local (Quichua), 
significa "trança forte". (e poe forte nisso!)

 
Como vegetariano, sofri um pouco com a alimentação local...


Antes de tudo, precisamos nos aclimatar (fazer o organismo se acostumar 
com o pouco oxigênio da altitude)... subida para aclimatação no Cotopaxi 
(maior vulcão ativo do planeta)






Cume do Cotopaxi (5.800mts). Após 8hs de subida duríssima, apreciando a vista e a cratera do vulcão...

 fumaça saindo da cratera... Visual incrível!
De volta a cidade para descansar, 
procuramos nos infiltrar ao máximo
  na cultura local
.
            Então demos carona para estes nativos que nos levaram para uma festa típica deles!





Éramos os únicos estrangeiros no lugar...

a mãe com a filha pastorando no campo...
A foto desta pequena pastora equatoriana é uma 
das minhas prediletas!




Nos aventuramos numa feira local onde era possível encontrar deste frutas e legumes até vários tipos de animais...


Lhamas, animais típico da região dos Andes

 
 Traços fortes do povo...

Pelas cores das vestimentas é possível saber de qual região 
a pessoa pertence.


A imponente montanha vista de um vilarejo próximo.
                                                       
Depois de um banho nesta linda cachoeira,
 estávamos fortes e energizados...



...para iniciarmos nossa subida rumo ao 
cume do Chimborazo.


Plano: chegamos no refúgio (uma casinha de madeira
 nos pés da montanha) por volta das 18hs, comemos algo 
e descansamos até às 22hs,  nos equipamos e começamos 
a subida às 23hs com estimativa de chegar ao
 cume por volta das 7 hs da manhã!


 O Sol nascendo durante a escalada... Um dos momentos 
sublimes do montanhismo. 
Contemplar o nascer do dia no alto de uma
 montanha é um espetáculo que exige
 esforço e perseverança.

Uma das estratégias que usei foi não olhar muito para cima, 
para não desanimar...


A sombra da montanha projetada na paisagem
 em meio as núvens...


As gretas (estes burados "sem fundo") são um dos 
maiores perigos neste tipo de escalada.


Mais uma vez, foram várias lições tiradas da montanha,
 mas a 
maior delas gostaria de compartilhar:
Tudo na vida depende de" O quanto você quer"?

Depois de 10 dias aclimatando o corpo fiz minha 
primeira tentativa de cume, 
 tive que voltar quando já estava a 6000m de altitude
 ( depois de 6hs subindo)
 por risco de avalanche. A neve estava 
completamente instável,
 me senti num campo minado.
Logo que descemos, perguntei para um gringo que 
estava junto: 
"E agora?" 
-"Agora, é hora de bailar salsa!!"ele respondeu.
Preferi não agir como ele, não quis relaxar e descontrair... 
não ainda! 
Optei por insistir em meu objetivo, então mudei
 minha passagem e voltei para montanha depois de 4 dias, 
contra a vontade do guia que dizia 
que as condições estariam as mesmas, 
e na verdade não estavam... 
Havia mais neve do que da primeira vez porém sem risco 
de avalanche pois esta estava mais compacta, 
mas em 
compensação haviam momentos que 
afundávamos os pés
e a neve atingia a canela,
 tornando a caminhada muito difícil.
Depois de 5:30 de subida,  tive que abortar a missão
 pela segunda vez 
a 5800m de altitude e voltei para o Brasil.









 






Dando uma pausa para respirar fundo à "apenas"
 algumas horas do cume. 

No montanhismo temos que aprender a lidar com este tipo de frustração... Corremos o risco de nos dedicarmos por meses em um projeto e na hora H a natureza não dar o "alvará final" e fechar as portas! É duro...
Continuei inquieto mesmo aqui no Brasil. Sonhei com a montanha pelo menos umas duas vezes...
Queria voltar e realizar meu sonho, porém não tinha mais a disponibilidade de me ausentar por tanto tempo... Então, num determinado momento, bati os olhos  no calendário e ví um feriado, o de Páscoa, que caía numa Sexta F. Decidi que poderia me ausentar por dois dias no trabalho e sair numa 4ªF., tentar o cume na madrugada de Sábado para Domingo e na seguência viajar 5hs de carro para o aeroporto e voar durante a noite chegando no Brasil  2ªF cedo, pronto (e moído) para o trabalho. Elaborei uma lojistica onde teria apenas 3 dias para me aclimatar  e este já seria um grande desafio! Não sabia ao certo se isso era possível então conversei com o amigo e experiente montanhista Carlos Santalena (brasileiro mais jovem a pisar no cume do Everest) que me olhou nos olhos e disse: "Cara, você vai cagar sangue, mas é possível!!" "Então deixa comigo!" respondi. Marquei a passagem e intensifiquei os treinamentos e foco!






A paisagem vista lá de cima em meio as estalactites de gelo...

No dia da minha 3ª tentativa de cume, para dar um "tempero especial" a aventura, acordei com o ouvido
inflamado e início de gripe. Não me sentia 100% forte! Cogitei desistir por duas vezes pois tinha medo de minha energia acabar derrepente lá em cima... Mas o Guia Sergio Kilotoa, que me 
acompanhou desde a minha primeira tentativa, sabia o quanto eu queria aquilo então não me deixou desistir, pelo contrário, me convenceu a subir (está é uma atitude completamente atípica para guias de alta montanha pelo risco que representa), mas ele não estava sendo imprudente, simplesmente usou de sua experiência e julgou que eu estava forte e com condições, apresentava apenas um pequeno bloqueio psicológico e logo tratamos de eliminá-lo.
Quando se trabalha próximo do limite do físico e mental, a mente têm que estar totalmente confiante!
                                                       
 Então,depois de aproximadamente 8 hs de subida,
 todo o esforço foi recompensado! O Universo conspirou e atingimos o cume,
 no momento certo! Depois de despertar e exercitar vários potenciais e qualidades como planejamento, foco, determinação, perseverança, fé... 

Reforçando: tudo é uma questão de "O quanto você quer?"
Se tivesse agido como o gringo que citei anteriormente, e ido para "gandaia" logo quando voltamos da primeira tentativa frustrada,  não teria concretizado mais este sonho!


cume do Chimborazo!
Está disposto a empregar quanto de energia, tempo, dedicação, empenho, 
disciplina para atingir seu objetivo?
 Neste caso, me empenhei por 4 meses e tive que voltar três vezes para a montanha...

Vista do ponto mais alto do Equador... Colchão de núvens e o cume de outros vulcões...


O guia Sergio e eu. A bela atuação desse cara fez toda diferença no sucesso dessa empreitada.

Lápides em memória dos que não voltaram com vida da montanha...
Estejam em Paz.

A fauna e flora local:

Essa espécie de lobo é chamada de "zorro andino"...

águia em pleno voo...
Vicunha em seu habitat natural, com o Chimborazo de fundo...

Olha a carinha do menino... 
 não consegue nem abrir os olhos... 
Mas valeu!!!