quarta-feira, 16 de março de 2011

Aconcágua: Desafio transformador




Monte Aconcágua

Achava que já havia sentido exaustão física e mental quando estive no Aconcágua pela primeira vez (em Jan./2010), mas nesta segunda expedição, um ano depois, o que vivenciei foi uma experiência extracorporal!

É difícil expor em palavras o que sentimos e vivemos naquela montanha... Só quem esteve lá pode entender... Mas farei meu melhor:

Gosto sempre de frisar que uma aventura como esta nos causa grandes transformações internas... nossos valores mudam e começamos a enxergar o mundo com outros olhos... Senti isso ao retornar da primeira vez, e queria mais! Na verdade, este foi o principal motivo que me fez voltar. Claro que chegar ao cume também me interessava, já que da primeira vez não havia conseguido, porém o que desejava mais era sentir novamente aquela transformação que só a montanha nos faz passar.

A magnitude da montanha.


Acredito que o fato do Monte Aconcágua ser DURÍSSIMO é o que o torne tão especial. Para se atingir o cume, além de excelente preparo físico e mental, o montanhista deve estar totalmente determinado e focado! A dúvida não pode existir.

Tenho total convicção que é a mente que te fazem superar os 300 metros finais, quando precisei intermediar um "acordo" entre meu corpo (que queria parar e DORMIR) e minha mente (que queria proseguir e atingir o objetivo). "Decidimos" então que para cada passo daria 3 a 4 respiradas... Imagino que seja até difícil de se imaginar uma situação como esta ao ler estas linhas, mas este era o único jeito de eu vencer este trecho final a 6600mts de altitude.



campo I (5000 mts)



Sem piedade, durante 15 dias (tempo médio de uma expedição), a montanha te faz sentir cansaço, fome, frio intenso, sede, sono... dia após dia... resumindo: Ela te ESPREME! E é justamente quando atingimos um grau de cansaço como este e decidimos não desistir e continuar avançando, que despertamos potenciais que nunca imaginávamos possuir. Ela te faz ir lá no fundo do seu ser, buscar na sua mente, corpo e espírito, forças para prosseguir e avançar... Sem parar, um passo após o outro...Vivenciando cada respiração, cada esforço muscular para avançar alguns centímetros...
Uma das máximas da montanha: ”Devagar e sempre!” ensinamento para a vida.




Pôr do Sol no campo II (5500mts)


Somente pessoas determinadas aguentam o tranco e prosseguem na expedição. Conforme os dias vão passando, as pessoas vão desistindo, foi assim nas duas expedições que participei e sempre será... Segundo estatísticas, somente 15 à 20 % dos que tentam, chegam ao cume.
Quando retornamos, é normal a troca de emails entre os participantes da expedição com comentários sobre  mudança de valores, expanção de consciência e coisas do gênero...


campo II (5500 mts)

Como uma roupa que foi espremida e retorcida no enxágüe, saímos mais puros e limpos das ilusões do mundo e dos falsos valores da sociedade, voltamos com uma visão mais sensata e verdadeira da vida. Um copo de água mineral têm um outro sabor, sua cama passa a ter um valor inestimável, um banho então... sem palavras! Pequenas coisas que usufruímos todos os dias mas que, com a pressão e correria do dia a dia, não as valorizamos.
Até o simples ato de respirar e encher os pulmões com oxigênio,(o que fazemos a todo instante na cidade) nos é privado quando estamos lá em cima... Conseguem imaginar a intensidade dessa experiência?!

cume: ponto mais alto das Américas: 6962 mts



Obrigado Aconcágua.